E como hoje é Dia da Enfermagem, nada mais a propósito do que relembrar uma figura preminente prossecutora daquele ramo da auxiliar da medicina: Florence Nightingale.
Florence Nightingale (1820-1910) |
Florence Nightingale foi considerada a fundadora da enfermagem moderna. O da enfermeira como anjo da guarda à cabeceira do doente, protagonizada por Florence , será tipicamente uma construção social do romantismo inglês, em plena época vitoriana. Esta inglesa da upper class (classe alta) ficará conhecida então como "The Lady with the Lamp" e "The Angel of the Crimea" (Woodham-Smith, 1951).
Eram colocados entraves à enfermagem hospitalar na Grã-Bretanha até meados do Século XIX, quando era dominada pelas matrons e pelas nurses, as irmãs de caridade:
- Trabalho esporádico, desqualificado, socialmente desvalorizado e mal remunerado;
- Grosseira aplicação dos cuidados médicos;
- Ausência de especificidade de funções e de autonomia técnica;
- Condições de trabalho altamente penosas nos hospitais e nas worhouses;
- Conduta pessoal reprovável (alcoolismo, roubo, desleixo, promiscuidade, etc.), tipificado na célebre personagem de Charles Dickens (1812-1870), Mrs. Sairey Gamp, no seu romance Martin Chuzzlewit, 1844);
- Dificuldades de recrutamento de pessoal;
- Ausência de estruturas de formação, etc.
Além de tecnicamente desqualificadas, as matrons e as nurses tinham muitas vezes um comportamento moralmente reprovável. Os livros de registo da maior parte dos hospitais ingleses da época dão-nos conta da impressionante frequência de casos de enfermeiras que eram admoestadas ou demitidas por alcoolismo, insolência, falta de disciplina, absentismo, roubo ou extorsão praticada na pessoa dos doentes.
Nightingale atacou estes problemas criando um sistema baseado na formação, no treino, na dedicação, na disciplina de ferro e na forte estratificação hierárquica, segundo um modelo misto, conventual e militar .Voltando às origens...
Florence Nightingale é mais lembrada por seu trabalho como enfermeira, porém, é pouco conhecido a respeito desta mulher notável a paixão pela matemática, especialmente estatística, e como esta paixão desempenhou um papel importantíssimo no seu trabalho.
Nasceu em Florença, Itália, de família abastada. Aos cinco anos, o pai comprou uma casa em Hampshire onde passavam os Verões.
A educação inicial das meninas ficou a cargo de professoras particulares, mais tarde a tarefa foi feita pelo pai que foi educado em Cambridge. Em 1840, Nightingale implorou aos pais que a deixassem estudar matemática ao invés de: fazer tricô ou dançar quadrilha.
Embora o pai gostasse de matemática e tivesse passado este gosto para a filha, solicitou que estudasse assuntos mais apropriados para uma mulher. Após muitas discussões emocionais, os pais de Florence finalmente concordaram e permitiram que ela fosse tutorada em matemática.
Uma das pessoas que mais a influenciou foi o cientista Belga Quetelet. Ele aplicou métodos estatísticos a dados de vários campos, incluindo estatísticas morais e ciências sociais.
Florence desenvolveu um interesse por assuntos sociais, mas em 1845 a família estava firmemente contra a sugestão dela, de ganhar experiência num hospital. Até então as únicas tarefas de enfermagem que ela tinha feito era cuidar de amigos e parentes doentes. Durante esta época a enfermagem não era tido como uma profissão apropriada para uma moça bem educada. As enfermeiras desta época além de não ter treino tinham a reputação de serem ordinárias, ignorantes e dadas a promiscuidade e bebedeiras.
Foi enquanto fazia uma viagem pela Europa e Egito, em 1849, que surgiu a oportunidade de estudar os diferentes sistemas hospitalares. No inicio dos anos 1850 iniciou um "estágio" como enfermeira do Instituto São Vicente de Paula em Alexandria, Egito, que era um hospital da igreja Católica Romana. Em julho de 1850 visitou os hospital Pastor Theodor Flidner em Kaiserwerth, perto de Dussledorf. Voltou a Kaiserwerth, em 1851, para fazer um estágio de três meses no Instituto para Diaconesas Protestantes e da Alemanha seguiu para o hospital St. Germain, próximo de Paris, que era dirigido pelas Irmãs da Piedade. Ao retornar a Londres, em 1853, aceitou o cargo, sem pagamento, de Superintendente no "Estabelecimentos para Senhoras Enfermas".
Em março de 1854 após o início da guerra da Criméia, o The Times criticou as instalações hospitalares britânicas.
Em resposta as estas críticas, o amigo Sidney Herbert, Secretário Britânico para a Guerra, solicitou, por carta, que Florence se tornasse uma enfermeira administradora para supervisionar a introdução de enfermeiras nos hospitais militares. O seu título oficial era "Superintendente do estabelecimento de mulheres enfermeiras dos hospitais gerais ingleses na Turquia". Florence chegou a Scutari, um subúrbio asiático de Constantinopla (hoje Istambul), com 38 enfermeiras em 04 de novembro de 1854.
Quando chegou a Scutari (Novembro de 1854), à frente de um pequeno exército de 38 enfermeiras, voluntárias, umas leigas e outras religiosas (católicas e anglicanas), teve que enfrentar toda a série de dificuldades: (i) a falta de recursos, a ausência das mais elementares condições de higiene, a hostilidade dos médicos e demais oficiais militares, os preconceitos do sexo masculino, o crescente número de feridos e doentes vindos da frente de batalha, a indisciplina e a falta de preparação das suas nurses, etc.
É então que a culta e mística Florence vai revelar-se uma mulher com grande capacidade de trabalho, de determinação, de gestão e de liderança. É desta experiência brutal, no estrangeiro, numa cultura hostil como a castrense e, ainda por cima, no teatro de guerra, que Florence retira o conhecimento prático que lhe vai permitir criar as bases para a reforma hospitalar da segunda metade do Século XIX (incluindo a reorganização dos serviços de enfermagem).
É então que a culta e mística Florence vai revelar-se uma mulher com grande capacidade de trabalho, de determinação, de gestão e de liderança. É desta experiência brutal, no estrangeiro, numa cultura hostil como a castrense e, ainda por cima, no teatro de guerra, que Florence retira o conhecimento prático que lhe vai permitir criar as bases para a reforma hospitalar da segunda metade do Século XIX (incluindo a reorganização dos serviços de enfermagem).
O fato de ser mulher significava que tinha que lutar com as autoridades militares a cada passo para levar a cabo o propósito de reformar o sistema hospitalar. Com condições como soldados deitados no chão bruto, rodeados por insetos e ratos e operações efetuadas em condições anti-higiénicas, não foi surpresa que quando ela chegou a Scutari, doenças como cólera, tifo fossem comuns nos hospitais.
Mais tarde, em 1860 funda a Nithghtingale School of Nurses, em Londres, considerada a primeira escola prifissional de enfermagem, em todo o mundo.
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